Um GURU para chamar de seu
- Paula Bastos
- 2 de abr. de 2021
- 3 min de leitura

A palavra "Guru" saiu lá do outro lado do planeta e veio habitar o ocidente. Rica em interpretações e correlações, usada para definir um Mestre, um Sábio, o Professor. Profissionais tidos como "Gurus" existem em vários setores, "Guru" da Economia, da Moda, da Ciência, da Internet,...enfim, entende-se que "Guru" é aquele que é seguido por muitos por causa do seu conhecimento, do seu domínio sobre um assunto. A maioria das vezes "Guru" está relacionado ao Lider Espiritual. Uma representação metafórica hinduísta diz que - GU - é sombra e RU - aquele que dissipa/afasta. "Guru" é aquele que dissipa a sombra e afasta a escuridão da ignorância.
"Guru" então é alguém "repleto de conhecimento". Em algumas tradições chamados também como "Swami", "Mestre", e normalmente vem de uma linhagem, protegem um conhecimento, recebem o título por tradição e nunca devem se auto intitular.
E você, já teve um "Guru" para chamar de "seu"?
Talvez! Lembra de quem recebeu ensinamentos que influenciam seu comportamento, ações, pensamentos, até hoje e que você até já passou a frente? Pois é!
Mas, já parou para pensar que todos são supostos "Gurus"?
Seja como líder espiritual, um "mestre" de alguma coisa, muitas vezes acabamos nos deixando influenciar e caímos em mais confusão do que estávamos, entre a verdade e a fantasia e bem longe do conhecimento que buscamos. Nos deixamos ver o em volta pelos olhos e experiências do outro.
Os que se auto intitulam "Gurus" normalmente são eloquentes, muitas vezes influentes, varias vezes mudam seus nomes em maioria espalham ideias superficiais, misturando religião, misticismo entre outras fórmulas para atrair, conquistar e manipular os que por eles são atraídos.
O foco principal de muitos é manter o dizimo, quer dizer, aumentar seus "discípulos".
Estes "Gurus" carismáticos em sua maioria, criam um mundo baseado em doutrinas que afirmam existir o dualismo entre princípios opostos, como o "bem e o mal", o "eles e nós" ou o "nós contra eles". Estigmatizam pessoas que pensam de forma diferente, como inimigos, desafortunados.
Afastam seus seguidores de ambientes protegidos como círculos de familiares, amigos, ..., usam sua influência para manipular informação e seu conhecimento convincente, suas palavras carregadas em vikalpa (engano, fantasia, ilusão). Conduzidos pelo próprio ego.
Já vimos e ouvimos sobre os que acabam por criar seitas onde o líder eleito é ele, por ele mesmo! Tem histórias baseadas em experiências anedóticas, raramente comprovadas de alguma forma, enredam seus discípulos em relações de intimidade e confiança. Protetores, se esforçam em obter a confiança dos que os cercam. Oferecem "cargos" em uma hierarquia imaginária como reconhecimento aos mais dedicados. Fórmula que se repete em diversos segmentos.
No universo do Yoga, poderia enumerar alguns exemplos nem tão famosos, mas muito caricatos.
Já estive bem perto de supostos "Gurus". Ouvi os conhecimentos dos que se auto intitularam "Mestres", "Guru", "Swamis"... Testemunhei o mal que relações assim podem causar aos outros.
Muitas misturas e muita confusão, os pseudo "Gurus" em sua maioria, seguem vendendo treinamentos, tratamentos, caminhos fantasiosos para a felicidade, inventam metodologias duvidosas, como ensinamentos verdadeiros e embasados. São por vezes escritores de livros distribuídos gratuitamente que reafirmam seu papel e experiências "ctrl c ctrl v". Suas metodologias são sempre melhores e superiores a qualquer outra, mesmo que copiadas ou manipuladas.
Conheci pessoas que apostaram tudo! Suas heranças, seus patrimônios, esperanças e sua fé nas palavras vazias de falsos "Gurus", "Swamis", "Mestres".
Eu mesma quase caí numa dessas! Mas, depois de muitas buscas, hoje sou estudante e professora na Tradição de Krishnamacharya. Talvez nunca tenha ouvido falar nele mas, já tenha ouvido falar em Pattabhi Jois (Ashtanga Yoga) , em Iyengar, ou Indra Devi, todos frutos da influência desse brâmane que viveu mais de cem anos, teve sua vida dedicada ao Yoga. As práticas nas diferentes linhagens de Krishnamacharya, tem em comum a paixão e fé no Yoga como legado. E a mensagem implícita em seu ensinamento é de que o Yoga não é uma tradição estática, e sim VIVA, que respira e cresce constantemente através da vivência de cada praticante. "O Yoga se adpta ao aluno e não o aluno se adapta ao Yoga".
Aprendi que o Yoga é um ensinamento Libertador. Que a relação com o professor é de respeito e troca. "O professor não existe sem o aluno, nem o aluno é aluno sem o professor". Yoga é relacionamento, não sujeição.
Finalizo citando o Professor T.K.V. Desikachar, filho de Krishnamacharya.
“... tomar a palavra do Guru como autoridade, sem que a submeta a um processo de investigação discriminativo, e mesmo que lhe pareça verdade porque se adapta ao que você imagina enquanto verdade, ainda assim não será uma palavra válida para você."
Pense nisso na hora de chamar um "Guru" de seu! :)
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